São Paulo, 30 de março de 1973. A missa em memória do estudante universitário Alexandre Vannucchi Leme (1950-1973), preso, torturado e assassinado pelo regime militar, estava marcada para as 18h30 na Catedral da Sé. Mas, desde as 16h, PMs armados em camburões ou a cavalo já patrulhavam a Praça da Sé.
Cerca de 3 mil pessoas, a maioria delas estudantes da USP, onde Alexandre cursava o quarto ano de Geologia, participaram da cerimônia, presidida pelo bispo de Sorocaba, Dom José Melhado Campos (1909-1996), e concelebrada pelo cardeal-arcebispo de São Paulo, Dom Paulo Evaristo Arns (1921-2016).
Os estudantes queriam que a missa fosse rezada no campus da universidade, mas Dom Paulo não aprovou a ideia. Mais do que isso: convenceu-os a participar da cerimônia na catedral. Ali, argumentou, estariam seguros. Em sinal de protesto pela morte do colega, os alunos espalharam faixas de luto pela USP e paralisaram as aulas. A censura proibiu os jornais de noticiar a missa.
Na tarde do dia 30, o carro de dom Paulo foi seguido, desde a residência do Sumaré até a Catedral da Sé. “Não foi a primeira nem a última vez”, observou ele na autobiografia Da Esperança à Utopia – Testemunho de Uma Vida (2001).
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A certa altura, um cinegrafista da TV Globo começou a registrar imagens para o telejornal da noite. Com medo de represálias, os estudantes cobriram os rostos com os folhetos de cânticos.
4 thoughts on “No centenário de Dom Paulo Evaristo Arns, parentes e amigos relembram Alexandre Vannucchi Leme, torturado até a morte pelo regime militar”
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